O meu primeiro, é um post extenso, como extensa é minha crença nesta
terra. Prometo que vou evitá-los. Mas, aos que tiverem a pachorra de
percorrê-lo até o fim, espero que o caminho tenha sido leve.
Na madrugada do dia 17 de setembro de 1988, desembarquei em Boa Vista
para viver a aventura de ver nascer um novo estado da Federação. Vim de mala e
cuia, para ficar. Trouxe a família toda. Até um Husky Siberiano, coitado, que
não conseguia entender a falta de neve e a minha falta de bom senso.
Macuxizei-me, os mais antigos hão de lembrar. Fui frequentador dos fins
de tarde de fofoca política na banca da Valcira, pesquei tucunarés, filhotes,
matrinxãs, pacus e piaus nas mais variadas águas, no Rio Branco, lagos e
igarapés. Comi os gostosíssimos abafadinhos do saudoso Parimé, acompanhados de
molhos com aquela quantidade incendiária de pimenta (jiquitaia, arubé, de
cheiro, olho-de-peixe, malagueta e outras que não lembro o nome, mas que minhas
papilas gustativas jamais esquecerão o ardor). Fui feliz. Talvez nunca tanto. Antes
ou depois.
Coincidência ou não, o fato é que, exatamente vinte e cinco anos depois,
mais uma vez desembarquei em Boa Vista. Mais uma vez para ficar, macuxizar-me,
ser feliz. Mais uma vez para viver a
aventura de assistir e participar de um momento histórico.
Da primeira vez, vi Roraima, quase virgem, em seus primeiros passos. Ali
se me revelou por inteiro, mostrou o quê e o quanto poderia vir a ser. Seu
potencial aflorava, gritava, era só querer ver e escutar. E agir, botar energia
no processo, mostrar que era possível, despertar a autoestima. Vi o calcário
ganhar usina em Caracaraí, para corrigir o solo e permitir a Roraima cumprir o
que lhe foi destinado. Vi a soja chegando de avião para nos permitir sonhar
muito longe e muito alto.
Agora, anos depois, encontro Roraima numa encruzilhada. Vai ter que
decidir que caminho seguir entre os dois que se lhe deparam, sob pena de perder
a locomotiva da história. Ou segue pelo caminho mais fácil e se rende à
inércia, ao crescimento vegetativo que com tão pouco se contenta, ao
paternalismo que entorpece, amofina e vicia, ao emprego público e ao aeroporto como
únicas saídas para seus filhos. Ou abre bem os olhos, enxerga as evidências que
gritam suas enormes potencialidades, convence-se do quanto pode ser grande, toma
coragem e une suas forças numa mesma vontade, numa mesma voz alta e crescente daqui
até Brasília, até o fim do mundo se preciso for, para exigir o que lhe é de
direito. Dá o grande salto e rompe a passos largos e firmes pelo caminho sem
volta do desenvolvimento.
O tempo dirá, mas se conheço esse povo - e acho que o conheço muito bem
– sei o quanto é obstinado. E que vai escolher o caminho que o leve ao encontro
do seu destino. Um grande destino. Porque o Caribe está logo ali, a 600 km. E
depois o Pacífico. E depois o mundo
Eu vi de perto a incrível transformação do Cerrado baiano. Vi o cerrado
piauiense patinar por falta de estradas e de incentivo. Tenho a mais absoluta
certeza de que vou ver de perto a transformação muitas vezes maior do Lavrado,
das terras roraimenses. Até para ter o prazer de encher o peito e me gabar: eu
não disse?!
Quase que dá vontade de ir também!
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