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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Roraima em sua encruzilhada

O meu primeiro, é um post extenso, como extensa é minha crença nesta terra. Prometo que vou evitá-los. Mas, aos que tiverem a pachorra de percorrê-lo até o fim, espero que o caminho tenha sido leve.


Na madrugada do dia 17 de setembro de 1988, desembarquei em Boa Vista para viver a aventura de ver nascer um novo estado da Federação. Vim de mala e cuia, para ficar. Trouxe a família toda. Até um Husky Siberiano, coitado, que não conseguia entender a falta de neve e a minha falta de bom senso.

Macuxizei-me, os mais antigos hão de lembrar. Fui frequentador dos fins de tarde de fofoca política na banca da Valcira, pesquei tucunarés, filhotes, matrinxãs, pacus e piaus nas mais variadas águas, no Rio Branco, lagos e igarapés. Comi os gostosíssimos abafadinhos do saudoso Parimé, acompanhados de molhos com aquela quantidade incendiária de pimenta (jiquitaia, arubé, de cheiro, olho-de-peixe, malagueta e outras que não lembro o nome, mas que minhas papilas gustativas jamais esquecerão o ardor). Fui feliz. Talvez nunca tanto. Antes ou depois.

Coincidência ou não, o fato é que, exatamente vinte e cinco anos depois, mais uma vez desembarquei em Boa Vista. Mais uma vez para ficar, macuxizar-me, ser feliz.  Mais uma vez para viver a aventura de assistir e participar de um momento histórico.

Da primeira vez, vi Roraima, quase virgem, em seus primeiros passos. Ali se me revelou por inteiro, mostrou o quê e o quanto poderia vir a ser. Seu potencial aflorava, gritava, era só querer ver e escutar. E agir, botar energia no processo, mostrar que era possível, despertar a autoestima. Vi o calcário ganhar usina em Caracaraí, para corrigir o solo e permitir a Roraima cumprir o que lhe foi destinado. Vi a soja chegando de avião para nos permitir sonhar muito longe e muito alto.

Agora, anos depois, encontro Roraima numa encruzilhada. Vai ter que decidir que caminho seguir entre os dois que se lhe deparam, sob pena de perder a locomotiva da história. Ou segue pelo caminho mais fácil e se rende à inércia, ao crescimento vegetativo que com tão pouco se contenta, ao paternalismo que entorpece, amofina e vicia, ao emprego público e ao aeroporto como únicas saídas para seus filhos. Ou abre bem os olhos, enxerga as evidências que gritam suas enormes potencialidades, convence-se do quanto pode ser grande, toma coragem e une suas forças numa mesma vontade, numa mesma voz alta e crescente daqui até Brasília, até o fim do mundo se preciso for, para exigir o que lhe é de direito. Dá o grande salto e rompe a passos largos e firmes pelo caminho sem volta do desenvolvimento.

O tempo dirá, mas se conheço esse povo - e acho que o conheço muito bem – sei o quanto é obstinado. E que vai escolher o caminho que o leve ao encontro do seu destino. Um grande destino. Porque o Caribe está logo ali, a 600 km. E depois o Pacífico. E depois o mundo

Eu vi de perto a incrível transformação do Cerrado baiano. Vi o cerrado piauiense patinar por falta de estradas e de incentivo. Tenho a mais absoluta certeza de que vou ver de perto a transformação muitas vezes maior do Lavrado, das terras roraimenses. Até para ter o prazer de encher o peito e me gabar: eu não disse?! 

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