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quarta-feira, 23 de abril de 2014

A orfandade das “pessoas que não quiseram se identificar”.

Houve um tempo em que andei pesquisando bastante para saber onde e como vivem as tais “pessoas que não quiseram se identificar”, encontradiças na Falha de Boa Vista sempre que eles lá querem caluniar ou ofender alguém, denegrir uma administração ou serviço público posando de isentos, ou seja, quase todo dia. Descobri que aquelas pessoas vivem em cativeiro nos porões do periódico, sob a guarda e o comando de um jovem repórter inimigo figadal da verdade e que tem uma enorme preguiça de apurar os fatos, ouvir o outro lado, enfim, essas coisas triviais e chatas pra caramba de um jornalismo que se queira sério e merecedor de credibilidade.
Ao saber quem cuidava das “pessoas que não quiseram se identificar”, confesso, temi por sua segurança, e mesmo pela continuidade de sua existência. Afinal de contas, aquele não era exatamente um guardião capaz de alimentá-las, cuidá-las, mantê-las em condição de atuar, enfim. Mas, como com o tempo elas continuavam vivas e buliçosas, aparecendo quase todo dia numa matéria amarronzada da Falha, pensei cá comigo: deixa pra lá, o cara é meio, como dizer, turbinado, mas precisa delas para seus delírios em forma de matéria, capaz de alimentá-las bem, dar-lhes uma roupinha legal, leva-las ao cinema.
Mas parece que o jovem guardião das “pessoas que não quiseram se identificar” arranjou uma boquinha numa secretaria aí do governo. E agora? Será que vai ter tempo para cuidar das coitadinhas? Capaz de entrega-las a qualquer um, uma pessoa cruel e insensível, incapaz de compreender as necessidades de seres tão, digamos assim, gasosos e arredios. Um perigo.
Voltei a ficar preocupado. É bem capaz de as “pessoas que não quiseram se identificar”, num gesto tresloucado de rebeldia, conseguirem fugir e deixar o, vá lá que seja, jornal no ora veja. Ai lascou, como diria o outro. Logo agora que me autoproclamei ombudsman não remunerado, lupa na mão, incansável pesquisador das falhas da Falha, como é que fico? Será que eles serão vingativos a ponto de baixar o nível e começar a publicar a verdade, evitar as barrigas, ouvir o outro lado, checar as fontes... tudo isso só para me privar da diversão de pegá-los no flagra?

Acho que devo relaxar. O vício de mentir é mais difícil de largar do que o cigarro. Este ombudsman do jornal alheio tem trabalho pra muito tempo ainda.

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