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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Cachaça com terra

Não, não é o nome estranho de uma nova banda de forró igualmente estranha. O Jornal de Roraima de hoje nos dá conta de que mais duas fazendas serão “desintrusadas” (aos meus ouvidos, uma das palavras mais ofensivas da língua, principalmente quando proferida aqui em Roraima) na região do Amajari. Fazendas produtivas, claro, que nossos defensores do bom selvagem não fazem por menos. Para eles, produzir gera lucros, lucros são apropriados por capitalistas cruéis e predatórios, logo, acabemos com o lucro e vivamos todos do salário pago pelo governo, uns com menos, outros com mais, outros, ainda, com o bolsa-família ou o bolsa-guerrilha. Cumprida a sagrada missão, a terra ficará ao Deus dará, sem produzir um grão, um quilo de carne. Talvez um pouco de mandioca, pra fazer beiju e farinha. E os índios? Já que quem devia – i.e. a FUNAI – não provê o sustento de seres que não entendem a lógica de uma economia de geração de excedentes e troca e que, por isso mesmo, não conseguem dinheiro para adquirir os bens de que necessitam, os índios também ficarão ao Tupã dará. Como no lavrado não tem caça suficiente, virão para Amajari, Boa Vista ou qualquer outra cidade mais perto, arranjar algum para comer, encher a cara e vagar pelas ruas. Mas fiquem tranquilos: a cultura e os costumes ancestrais estarão preservados. Afinal de contas, tomar cachaça é ou não é um costume ancestral? Outra coisa: bom selvagem é a...o...deixa pra lá.

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