Sou leitor fiel da coluna de
Edersen Lima. Não perco uma. Revelam um colunista muito
bem informado, o que é fundamental, e um analista muito agudo da cena política,
em que pesem suas idiossincrasias -quem não as tem? Em razão do que publicou
hoje, me vejo obrigado a fazer uma exceção a uma postura que tenho adotado
desde que comecei com este blog: nunca falar, bem ou mal, do senador Romero
Jucá. Seja por sermos ligados há muito tempo por relações de trabalho e amizade,
seja pela admiração que nutro pela sua capacidade de pensar e agir política e
administrativamente, minhas análises dificilmente seriam isentas, como se
espera e eu gostaria que fossem.
Concordo com Edersen quando diz
que Telmário quer ser ou ter o que Jucá é e tem. Quem desdenha quer comprar, reforça
o articulista. Mas não acho que é só isso. Telmário escolheu deliberadamente
atribuir a Jucá todos os males do Estado na esperança de posicionar-se como desaguadouro
de qualquer parcela de rejeição, por mínima que seja, que Jucá, como qualquer político
maiúsculo, possa ter. O que move Telmário é em parte inveja e em parte cálculo.
O caboco é astucioso e, com certeza, intuiu essa estratégia
de crescer batendo no maior. Pena, para ele, que o maior não lhe dê bola.
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1989. Jucá no asfaltamento da BR 174 Mucajaí-Caracaraí. Tudo era possível. Ah, eu sou o terceiro a partir da esquerda. |
Mas não concordo com Edersen
quando diz que Romero Jucá nunca governou o Estado. Governou, de setembro de
1988 a março de 1990 – e este blogueiro teve a honra e o prazer de fazer parte
daquela experiência memorável. Tudo bem, éramos ainda Território, em transição
para Estado. Mas os problemas eram talvez até maiores. E Jucá já pensava o
futuro do Estado. Em seu curto período de governo, já agia para prepara-lo
para esse futuro. Antes de desembarcar para assumir o mandato, já proclamava
sua crença em que o estado tinha tudo para transformar-se no celeiro da
Amazônia, um grande produtor e exportador de alimentos. Raciocinava ele que,
com seus vastos campos e cerrados, perfeitos para conseguir-se alta produtividade,
Roraima não precisava desmatar para produzir, o que lhe dava enorme vantagem
competitiva frente aos demais estados da região.
E agiu. Para cultivar o lavrado
e o cerrado é preciso calcário? Então que se traga o calcário. E montou uma
usina de Calcário em Caracaraí. É preciso começar produzir para provocar um
efeito demonstração indutor? Que se produza soja, a redenção dos cerrados
goiano e baiano. E trouxe semente de soja de avião para iniciar o primeiro plantio.
É preciso estrada para sair da dependência do rio e escoar a produção por via terrestre?
Que se asfalte a 174 até Caracaraí, com recursos próprios.
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Soja. As primeiras sementes Jucá trouxe de avião. |
E mais fez em seu pouco tempo.
Mais importante do que fez é o que pensou, o que enxergou lá longe e o que
planejou. Já via na estrada para Georgetown a saída para o Caribe e, daí, para
o mundo. Já falava em energia de Guri. Já falava em produção de cana de açúcar
como potente motor a gerar poderosos efeitos sore a economia. Pensava longe.
Pensava certo. Se Roraima lhe tivesse dado chance, em vez de apequenar-se em
questiúnculas paroquiais e medos sem razão de ser, outra seria a nossa situação
hoje, em outro patamar estaríamos. Ninguém sai de um estado com pouco peso
politico na federação para se transformar num dos políticos mais influentes do
Brasil por acaso. E o melhor que Roraima tem a fazer é explorá-lo, sugar-lhe
toda a energia, vontade de trabalhar, capacidade de gerir, de fazer acontecer,
usufruir de sua influência no cenário nacional, de seu talento para aglutinar, desarmar
espíritos e atingir o objetivo focado. É o que, acredito, Chico Rodrigues deve
ter percebido.
Eu costumo dizer que Romero
Jucá é um tipo especial de carro de Fórmula 1, que corre muito mais do que os
outros, nunca perde o ponto da freada nem sobe no guard rail. E que o melhor a fazer é aproveitar o tremendo vácuo
que seu deslocamento produz. Não se vai conseguir ultrapassá-lo. Mas dá para
economizar combustível e, do mesmo jeito, subir ao pódio no final. Pra que mais
do que isso, não é verdade?
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