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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Exceção necessária para lembrar oportunidades perdidas.

Sou leitor fiel da coluna de Edersen Lima. Não perco uma. Revelam um colunista muito bem informado, o que é fundamental, e um analista muito agudo da cena política, em que pesem suas idiossincrasias -quem não as tem? Em razão do que publicou hoje, me vejo obrigado a fazer uma exceção a uma postura que tenho adotado desde que comecei com este blog: nunca falar, bem ou mal, do senador Romero Jucá. Seja por sermos ligados há muito tempo por relações de trabalho e amizade, seja pela admiração que nutro pela sua capacidade de pensar e agir política e administrativamente, minhas análises dificilmente seriam isentas, como se espera e eu gostaria que fossem.

Concordo com Edersen quando diz que Telmário quer ser ou ter o que Jucá é e tem. Quem desdenha quer comprar, reforça o articulista. Mas não acho que é só isso. Telmário escolheu deliberadamente atribuir a Jucá todos os males do Estado na esperança de posicionar-se como desaguadouro de qualquer parcela de rejeição, por mínima que seja, que Jucá, como qualquer político maiúsculo, possa ter. O que move Telmário é em parte inveja e em parte cálculo. O caboco é astucioso e, com certeza, intuiu essa estratégia de crescer batendo no maior. Pena, para ele, que o maior não lhe dê bola.

1989. Jucá no asfaltamento da BR 174 Mucajaí-Caracaraí. Tudo era possível. Ah, eu sou o terceiro a partir da esquerda.

Mas não concordo com Edersen quando diz que Romero Jucá nunca governou o Estado. Governou, de setembro de 1988 a março de 1990 – e este blogueiro teve a honra e o prazer de fazer parte daquela experiência memorável. Tudo bem, éramos ainda Território, em transição para Estado. Mas os problemas eram talvez até maiores. E Jucá já pensava o futuro do Estado. Em seu curto período de governo, já agia para prepara-lo para esse futuro. Antes de desembarcar para assumir o mandato, já proclamava sua crença em que o estado tinha tudo para transformar-se no celeiro da Amazônia, um grande produtor e exportador de alimentos. Raciocinava ele que, com seus vastos campos e cerrados, perfeitos para conseguir-se alta produtividade, Roraima não precisava desmatar para produzir, o que lhe dava enorme vantagem competitiva frente aos demais estados da região.

E agiu. Para cultivar o lavrado e o cerrado é preciso calcário? Então que se traga o calcário. E montou uma usina de Calcário em Caracaraí. É preciso começar produzir para provocar um efeito demonstração indutor? Que se produza soja, a redenção dos cerrados goiano e baiano. E trouxe semente de soja de avião para iniciar o primeiro plantio. É preciso estrada para sair da dependência do rio e escoar a produção por via terrestre? Que se asfalte a 174 até Caracaraí, com recursos próprios.
Soja. As primeiras sementes Jucá trouxe de avião. 

E mais fez em seu pouco tempo. Mais importante do que fez é o que pensou, o que enxergou lá longe e o que planejou. Já via na estrada para Georgetown a saída para o Caribe e, daí, para o mundo. Já falava em energia de Guri. Já falava em produção de cana de açúcar como potente motor a gerar poderosos efeitos sore a economia. Pensava longe. Pensava certo. Se Roraima lhe tivesse dado chance, em vez de apequenar-se em questiúnculas paroquiais e medos sem razão de ser, outra seria a nossa situação hoje, em outro patamar estaríamos. Ninguém sai de um estado com pouco peso politico na federação para se transformar num dos políticos mais influentes do Brasil por acaso. E o melhor que Roraima tem a fazer é explorá-lo, sugar-lhe toda a energia, vontade de trabalhar, capacidade de gerir, de fazer acontecer, usufruir de sua influência no cenário nacional, de seu talento para aglutinar, desarmar espíritos e atingir o objetivo focado. É o que, acredito, Chico Rodrigues deve ter percebido.

Eu costumo dizer que Romero Jucá é um tipo especial de carro de Fórmula 1, que corre muito mais do que os outros, nunca perde o ponto da freada nem sobe no guard rail. E que o melhor a fazer é aproveitar o tremendo vácuo que seu deslocamento produz. Não se vai conseguir ultrapassá-lo. Mas dá para economizar combustível e, do mesmo jeito, subir ao pódio no final. Pra que mais do que isso, não é verdade?

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