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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Quem grita mais chora menos.

Gritando cada vez mais alto.
Já faz um tempo que estamos andando por um caminho muito perigoso. Veja só. Se você elogia o bronzeado ou os cabelos de uma colega: assédio sexual. Dá uma chamada mais, digamos assim, robusta num funcionário meio incompetente: assédio moral. Dá uma tapinha no bumbum do seu filho: lei da palmada. Chama um afrodescendente grande de negão: racismo. Ri dos trejeitos de um homossexual mais efusivo: homofobia. Corta uma árvore para plantar alimentos: agressão ao meio ambiente. E por aí vai.

E o pior de tudo é que você pode ser denunciado por qualquer um, sem nenhum critério objetivo, sujeito à interpretação e à idiossincrasia do acusador. E corre o risco de ir bater numa delegacia, ser indiciado, enfim, passar por essas coisinhas desagradáveis. Arma perfeita para uso político-ideológico, acertos de contas passadas e descarrego de recalques, não é mesmo?

É certo que você tem o direito à defesa. E tem que torcer muito para conseguir inocentar-se. Porque não há critério claro, não há limites, é tudo propositadamente muito vago, deixando você submetido à interpretação do promotor, do juiz, do tribunal, enfim, de toda a longa corrente de transmissão da justiça no Brasil. Mesmo que passe incólume por tudo isso, não há nada que pague o vexame e o constrangimento.
Pois é, as minorias estridentes venceram. E estamos vivendo tempos em que quem grita mais chora menos. Como a maioria não grita, melhor mesmo é ficar em casa. Se não, vejamos.

A infestação e multiplicação dos cupins.

A estratégia é multiplicar-se e infestar. Como cupins.
Talvez você ache que exagero, que estou desenvolvendo mais uma teoria da conspiração. Mas raciocine. Tudo isso faz parte de uma técnica de tomada do poder. A maioria da esquerda - a não ser alguns malucos sem expressão - há tempos desistiu de tomar o poder pela revolução. Organizam-se para destruí-lo por dentro, feito cupins, usando os mecanismos e brechas que o próprio sistema fornece para dele apossar-se. E, depois de confortavelmente instalados, destruí-lo por dentro.
E um dos principais movimentos é este: organizar-se e usar sua capacidade de fazer ruído e ganhar espaço na mídia – também acuada e morrendo de medo de ser classificada como reacionária/golpista - para acusa-lo e acuá-lo, fazê-lo sentir-se culpado por ser branco, heterossexual e bem sucedido. É assim que vão deixando a maioria inerte, com medo de reagir, com medo até de contra argumentar para não ficar tachado de reacionário, no mínimo, ou fascista, o que é mais comum, até porque eles não sabem o significado de fascismo e não percebem que usam táticas fascistas eles próprios.
Pra que brigar se a gente pode comer pelas beiradas?
Por exemplo. Se você, por motivos religiosos ou humanitários, é contra o aborto, vai ser acusado de ser contra as mulheres. Se manifestar-se contra políticas assistencialistas que impedem o crescimento do homem e da sociedade, vira imediatamente contra os pobres. Eles são mestres em reduzi-lo à expressão mais simples e mais ofensiva. E o fazem com muito, muito barulho.

E assim vamos ficando, sem saída, calados, inertes e impotentes diante da tomada do Estado. Se tiverem tempo, deem uma lidinha rápida no Velho Gramsci. Tá tudo lá. Depois olhe em volta. Eles estão confortavelmente instalados. Enquanto discutimos oligarquias e dominação, eles vão se apossando do que nos faria independentes: terras, riquezas e condições de produzir para dar o grande salto.


Demarcando áreas indígenas ao sabor das ideologias.


Se você parar pra pensar, vai ver que a legislação que regula a pretensa defesa das minorias é propositadamente vaga. Assim permite várias interpretações, não por acaso prevalecendo sempre aquela que melhor servir aos interesses da dita minoria. E isso permite aos seus agentes atuar com desenvoltura suficiente para atingir seus objetivos quase sem reação.

Veja-se, por exemplo, o caso da demarcação de terras indígenas. Existe alguma lei, baseada em rigorosos estudos científicos, que defina clara e objetivamente o que deve ser considerado área indígena? Mas, preste atenção, clara e objetivamente! Não. Assim, a delimitação de uma área fica ao sabor da interpretação e da vontade de antropólogos, que entre si elaboram seus próprios critérios, propositadamente vagos o suficiente para permitir a serem usados só por iniciados, ou seja: eles próprios. E é baseado num parecer não científico, elaborado com base numa ideologia e militância anticapitalista que se toma uma terra produtiva, uma fazenda, um sonho que levou anos para ser construído. Roraima sabe, não faz muito tempo passou por isso.
O futuro de um Estado nas mãos de poucos.

Há anos se luta para retirar tanto arbítrio, tanto poder de uma pessoa ou grupo de pessoas. Mas a luta é dura. O Congresso quer avocar para si, para os representantes de todos os brasileiros, de todas as raças e gêneros o direito de decidir o que é terra indígena? Sitiemos o Congresso, levemos para lá índios armados com seus anacrônicos arco e flecha, tênis, relógios e calças jeans de grife. E façamos bastante barulho, chamemos a imprensa, classifiquemos os parlamentares de exterminadores de índios. Exagero? Não. É assim que tem sido. E continuamos reféns da vontade de poucos iniciados.

Trabalho-escravo: cada cabeça uma sentença. 

E assim também está sendo com a lei que tenta regulamentar o que pode ser classificado como trabalho escravo neste país de gente acuada. João Pedro Stédile está encontrado dificuldades em conseguir terras via invasão? Fácil. Faça-se uma lei propositadamente vaga, cheia de brechas, fingindo que define situações que poderiam tipificar trabalho escravo e pronto: fica fácil tomar terra legalmente. Porque mais uma vez vai ficar ao arbítrio de um fiscal – que seja um grupo de fiscais – decidir se numa fazenda utiliza-se trabalho escravo. Baseado em que critérios: ora, no humor dele naquele determinado dia. Precisa mais? E os sem terra, em vez de estudarem Marx e Lenin como hoje, vão mais é estudar para passar nos concursos para selecionar fiscais do Ministério do Trabalho. Mole, mole.
A maioria do Congresso, por meio do relator da matéria – por acaso o senador Romero Jucá –, percebe a manobra e busca ouvir o conjunto da sociedade para tentar definir com clareza as situações que permitem enquadramento? Simples. Eles se recusar a discutir o assunto, a mandar sugestões, a participar da construção de uma solução de consenso, de racionalidade, que proteja o trabalhador e preserve a propriedade. Não argumentam: acusam. Não discutem: desclassificam. E usam seus blogs sujos (a classificação é de Lula, não minha) para tentar desqualificar o relator em todas as redes sociais a que tiverem acesso. E são muitas.

Foi isso o que fizeram. Mesmo quando o senador pediu mais tempo para ouvir o maior número possível de entidades representativas da sociedade e de defesa dos direitos dos trabalhadores. Continuam gritando. Continuam reverberando. Continuam fazendo alarido. Porque sabem que quem grita mais chora menos. E que nós e a imprensa que ainda se diz independente, acuados pelo barulho e pelas ofensas, com medo de seremos tachados de escravagistas, reacionários, direitistas-defensores-da-bancada-ruralista, não vamos reagir. Como sempre. Mas não está longe o tempo em que haveremos de nos arrepender. E aí já não vai mais ser possível gritar: só chorar.

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