Tento aqui reproduzir de memória
uma crônica do grande Stanislaw Ponte Preta.
Diz que havia um bar. Diz
que nesse bar reunia-se a fina flor dos mercenários internacionais para beber,
contar vantagem, tocar impressões, de batalhas, comparar cicatrizes... essas
coisas de mercenário.
Diz que nesse bar um dia
chegou um belga novo no pedaço, parrudíssimo, um verdadeiro armário. Chegou,
bateu com a mão no balcão, pediu uma cerveja, bebeu de um gole, olhou em volta
e, com um gesto abarcando todo o bar, disse:
- Aqui não tem homem pra
mim.
Diz que levantou um polaco,
também imenso, e perguntou.
- Tá falando comigo?
E o belga:
- Pode ser com você.
Diz que o polaco veio vindo pisando
firme, chegou frente a frente ao belga e... pimba: levou uma porrada pelo meio
dos cornos e caiu durinho no chão.
Diz que o belga bateu e novo
com a mão no balcão, pediu outra cerveja, bebeu de um gole e voltou a desafiar:
- Aqui não tem homem pra
mim.
Diz que levantou um alemão
forte pra caramba, olhou firme pro belga e perguntou:
- Isso é comigo?
E o belga:
- Pode ser com você também.
- Pode ser com você também.
Diz que o alemão veio vindo,
punhos levantados, balançou pum lado, balançou pro outro e... pow: levou outra
traulitada arrasa quarteirão na cara e desabou pronto para embarque.
Diz que a história se repetiu,
com um checo, um inglês um holandês, um russo branco, enfim, um monte de
mercenário durão encarando o belga e terminando em decúbito dorsal no chão do
bar.
E o belga só tomando a
cerveja dando o tapa no balcão e repetindo:
- Aqui não tem homem pra
mim.
Até que, da última vez que
disse, lá do fundo do bar levantou um brasileiro moreno, magrinho, terno de linho
folgado, chapéu panamá desabado e perguntou:
- O distinto aí está se
dirigindo à minha pessoa? Porque comigo o buraco é mais embaixo.
E o belga, impávido:
- Pode ser com você também.
Diz que o brasileiro
pendurou o cuidadosamente o paletó na cadeira, botou o chapéu na mesa e veio
gingando, pisando mansinho, naquele passo de gato, enrolando as mangas da
camisa de seda pele de ovo, com um sorrisinho irônico no rosto, chegou na
frente do belga, deu dois passos no estilo da capoeira, balançou prum lado e
pro outro e.. catapimba: levou uma porrada daquelas de derrubar o retrato da
parede e caiu durinho no chão.
E a história termina
justamente aqui. Aí você me pergunta: e a moral da história?
Aí eu respondo: isso é pra brasileiro
parar de pensar que só porque pisa mansinho, anda cheio de ginga e de picardia
e tem malemolência é mais malandro do que os outros.
O que é que isso tem a ver
com a situação do país e o desempenho da seleção nesta copa, principalmente no
jogo de ontem? Nada. É só uma história.
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