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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Picardia até ajuda. Mas não é o bastante.

Tento aqui reproduzir de memória uma crônica do grande Stanislaw Ponte Preta.
Diz que havia um bar. Diz que nesse bar reunia-se a fina flor dos mercenários internacionais para beber, contar vantagem, tocar impressões, de batalhas, comparar cicatrizes... essas coisas de mercenário.
Diz que nesse bar um dia chegou um belga novo no pedaço, parrudíssimo, um verdadeiro armário. Chegou, bateu com a mão no balcão, pediu uma cerveja, bebeu de um gole, olhou em volta e, com um gesto abarcando todo o bar, disse:
- Aqui não tem homem pra mim.
Diz que levantou um polaco, também imenso, e perguntou.
- Tá falando comigo?
E o belga:
- Pode ser com você.
Diz que o polaco veio vindo pisando firme, chegou frente a frente ao belga e... pimba: levou uma porrada pelo meio dos cornos e caiu durinho no chão.
Diz que o belga bateu e novo com a mão no balcão, pediu outra cerveja, bebeu de um gole e voltou a desafiar:
- Aqui não tem homem pra mim.
Diz que levantou um alemão forte pra caramba, olhou firme pro belga e perguntou:
- Isso é comigo?
E o belga:
- Pode ser com você também.
Diz que o alemão veio vindo, punhos levantados, balançou pum lado, balançou pro outro e... pow: levou outra traulitada arrasa quarteirão na cara e desabou pronto para embarque.
Diz que a história se repetiu, com um checo, um inglês um holandês, um russo branco, enfim, um monte de mercenário durão encarando o belga e terminando em decúbito dorsal no chão do bar.
E o belga só tomando a cerveja dando o tapa no balcão e repetindo:
- Aqui não tem homem pra mim.
Até que, da última vez que disse, lá do fundo do bar levantou um brasileiro moreno, magrinho, terno de linho folgado, chapéu panamá desabado e perguntou:
- O distinto aí está se dirigindo à minha pessoa? Porque comigo o buraco é mais embaixo.
E o belga, impávido:
- Pode ser com você também.
Diz que o brasileiro pendurou o cuidadosamente o paletó na cadeira, botou o chapéu na mesa e veio gingando, pisando mansinho, naquele passo de gato, enrolando as mangas da camisa de seda pele de ovo, com um sorrisinho irônico no rosto, chegou na frente do belga, deu dois passos no estilo da capoeira, balançou prum lado e pro outro e.. catapimba: levou uma porrada daquelas de derrubar o retrato da parede e caiu durinho no chão.
E a história termina justamente aqui. Aí você me pergunta: e a moral da história?
Aí eu respondo: isso é pra brasileiro parar de pensar que só porque pisa mansinho, anda cheio de ginga e de picardia e tem malemolência é mais malandro do que os outros.
O que é que isso tem a ver com a situação do país e o desempenho da seleção nesta copa, principalmente no jogo de ontem? Nada. É só uma história.


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