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Gritando cada vez mais alto. |
Já faz um tempo que estamos
andando por um caminho muito perigoso. Veja só. Se você elogia o bronzeado ou
os cabelos de uma colega: assédio sexual. Dá uma chamada mais, digamos assim,
robusta num funcionário meio incompetente: assédio moral. Dá uma tapinha no
bumbum do seu filho: lei da palmada. Chama um afrodescendente grande de negão:
racismo. Ri dos trejeitos de um homossexual mais efusivo: homofobia. Corta uma
árvore para plantar alimentos: agressão ao meio ambiente. E por aí vai.
E o pior de tudo é que você
pode ser denunciado por qualquer um, sem nenhum critério objetivo, sujeito à
interpretação e à idiossincrasia do acusador. E corre o risco de ir bater numa
delegacia, ser indiciado, enfim, passar por essas coisinhas desagradáveis. Arma
perfeita para uso político-ideológico, acertos de contas passadas e descarrego
de recalques, não é mesmo?
É certo que você tem o
direito à defesa. E tem que torcer muito para conseguir inocentar-se. Porque
não há critério claro, não há limites, é tudo propositadamente muito vago,
deixando você submetido à interpretação do promotor, do juiz, do tribunal,
enfim, de toda a longa corrente de transmissão da justiça no Brasil. Mesmo que
passe incólume por tudo isso, não há nada que pague o vexame e o constrangimento.
Pois é, as minorias
estridentes venceram. E estamos vivendo tempos em que quem grita mais chora
menos. Como a maioria não grita, melhor mesmo é ficar em casa. Se não, vejamos.
A
infestação e multiplicação dos cupins.
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A estratégia é multiplicar-se e infestar. Como cupins. |
Talvez você ache que
exagero, que estou desenvolvendo mais uma teoria da conspiração. Mas raciocine.
Tudo isso faz parte de uma técnica de tomada do poder. A maioria da esquerda -
a não ser alguns malucos sem expressão - há tempos desistiu de tomar o poder
pela revolução. Organizam-se para destruí-lo por dentro, feito cupins, usando os
mecanismos e brechas que o próprio sistema fornece para dele apossar-se. E,
depois de confortavelmente instalados, destruí-lo por dentro.
E um dos principais movimentos
é este: organizar-se e usar sua capacidade de fazer ruído e ganhar espaço na
mídia – também acuada e morrendo de medo de ser classificada como reacionária/golpista
- para acusa-lo e acuá-lo, fazê-lo sentir-se culpado por ser branco, heterossexual
e bem sucedido. É assim que vão deixando a maioria inerte, com medo de reagir,
com medo até de contra argumentar para não ficar tachado de reacionário, no
mínimo, ou fascista, o que é mais comum, até porque eles não sabem o
significado de fascismo e não percebem que usam táticas fascistas eles
próprios.
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Pra que brigar se a gente pode comer pelas beiradas? |
Por exemplo. Se você, por
motivos religiosos ou humanitários, é contra o aborto, vai ser acusado de ser
contra as mulheres. Se manifestar-se contra políticas assistencialistas que
impedem o crescimento do homem e da sociedade, vira imediatamente contra os
pobres. Eles são mestres em reduzi-lo à expressão mais simples e mais ofensiva.
E o fazem com muito, muito barulho.
E assim vamos ficando, sem
saída, calados, inertes e impotentes diante da tomada do Estado. Se tiverem
tempo, deem uma lidinha rápida no Velho Gramsci. Tá tudo lá. Depois olhe em
volta. Eles estão confortavelmente instalados. Enquanto discutimos oligarquias
e dominação, eles vão se apossando do que nos faria independentes: terras,
riquezas e condições de produzir para dar o grande salto.
Demarcando áreas indígenas ao sabor das ideologias.
Se você parar pra pensar,
vai ver que a legislação que regula a pretensa defesa das minorias é propositadamente
vaga. Assim permite várias interpretações, não por acaso prevalecendo sempre aquela
que melhor servir aos interesses da dita minoria. E isso permite aos seus
agentes atuar com desenvoltura suficiente para atingir seus objetivos quase sem
reação.
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Veja-se, por exemplo, o caso
da demarcação de terras indígenas. Existe alguma lei, baseada em rigorosos
estudos científicos, que defina clara e objetivamente o que deve ser
considerado área indígena? Mas, preste atenção, clara e objetivamente! Não.
Assim, a delimitação de uma área fica ao sabor da interpretação e da vontade de
antropólogos, que entre si elaboram seus próprios critérios, propositadamente
vagos o suficiente para permitir a serem usados só por iniciados, ou seja: eles
próprios. E é baseado num parecer não científico, elaborado com base numa
ideologia e militância anticapitalista que se toma uma terra produtiva, uma
fazenda, um sonho que levou anos para ser construído. Roraima sabe, não faz
muito tempo passou por isso.
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O futuro de um Estado nas mãos de poucos. |
Há anos se luta para retirar
tanto arbítrio, tanto poder de uma pessoa ou grupo de pessoas. Mas a luta é
dura. O Congresso quer avocar para si, para os representantes de todos os
brasileiros, de todas as raças e gêneros o direito de decidir o que é terra
indígena? Sitiemos o Congresso, levemos para lá índios armados com seus anacrônicos
arco e flecha, tênis, relógios e calças jeans de grife. E façamos bastante
barulho, chamemos a imprensa, classifiquemos os parlamentares de exterminadores
de índios. Exagero? Não. É assim que tem sido. E continuamos reféns da vontade
de poucos iniciados.
Trabalho-escravo:
cada cabeça uma sentença.
E assim também está sendo
com a lei que tenta regulamentar o que pode ser classificado como trabalho
escravo neste país de gente acuada. João Pedro Stédile está encontrado
dificuldades em conseguir terras via invasão? Fácil. Faça-se uma lei
propositadamente vaga, cheia de brechas, fingindo que define situações que
poderiam tipificar trabalho escravo e pronto: fica fácil tomar terra
legalmente. Porque mais uma vez vai ficar ao arbítrio de um fiscal – que seja
um grupo de fiscais – decidir se numa fazenda utiliza-se trabalho escravo.
Baseado em que critérios: ora, no humor dele naquele determinado dia. Precisa
mais? E os sem terra, em vez de estudarem Marx e Lenin como hoje, vão mais é estudar para
passar nos concursos para selecionar fiscais do Ministério do Trabalho. Mole, mole.
A maioria do Congresso, por
meio do relator da matéria – por acaso o senador Romero Jucá –, percebe a
manobra e busca ouvir o conjunto da sociedade para tentar definir com clareza
as situações que permitem enquadramento? Simples. Eles se recusar a discutir o
assunto, a mandar sugestões, a participar da construção de uma solução de
consenso, de racionalidade, que proteja o trabalhador e preserve a propriedade. Não argumentam: acusam. Não discutem: desclassificam. E usam seus blogs sujos (a classificação é de Lula, não minha) para tentar desqualificar o relator em todas as redes sociais a que tiverem acesso. E são muitas.
Foi isso o que fizeram.
Mesmo quando o senador pediu mais tempo para ouvir o maior número possível de
entidades representativas da sociedade e de defesa dos direitos dos trabalhadores.
Continuam gritando. Continuam reverberando. Continuam fazendo alarido. Porque
sabem que quem grita mais chora menos. E que nós e a imprensa que ainda se diz
independente, acuados pelo barulho e pelas ofensas, com medo de seremos
tachados de escravagistas, reacionários, direitistas-defensores-da-bancada-ruralista,
não vamos reagir. Como sempre. Mas não está longe o tempo em que haveremos de
nos arrepender. E aí já não vai mais ser possível gritar: só chorar.