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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Vamos falar de índios. Dos pobres e dos ricos. E de quem os usa.

Desses ninguém cuida, Já serviram aos seus objetivos.
Senadora Ângela. Aqui fala Marcelo Coutelo. A senhora me conhece. Mas talvez não saiba que, entre tantas outras coisas, fui Superintendente-Geral da FUNAI por mais de dois anos, de 1986 a 1988, no tempo em que existia uma real e séria política indígena neste país, no tempo em que existia uma política de segurança nacional que jamais teria permitido, em área contínua e de fronteira, as absurdas demarcações de Raposa e Serra do Sol e do território maior que o da Suíça em que vivem os ianomâmis que para lá foram levados. Um território que, estranhamente, a cada estudo ia crescendo e crescendo até coincidir com a área mapeada pelo projeto Radambrasil (*) e finalmente ser homologado do tamanho que interessava. Interessante isso, não? Pode ficar tranquila, eu vi os mapas que se foram sucedendo. Não os conservei, mas não estou inventando nada.

Midiático e inimputável: fala o que quer. A esquerda adora.
E é nessa condição de ex-Superintendente Geral, baseado em tudo o que vivi e aprendi naquele tempo, que venho tratar do assunto que hoje parece lhe interessar tanto: índios e seu bem estar. Vamos falar primeiro desses índios na foto aí de cima, ianomâmis que vagam ao léu na cidade atrás de comida, sem proteção sem valia, sem nada. Ianomâmis que durante anos foram levados de um lado para o outro por “missionários” que, para ocupar a maior província mineral do Brasil e mantê-la intocada, criaram nesses índios hábitos e necessidades de consumo que eles, quando quietos em sua terra, não tinham. Mas agora têm. E onde estão seus protetores agora? Gordos e luzidios, famosos e midiáticos, estão pelo mundo, fazendo discursos para alimentar o sectarismo de gigolôs de índios, mal intencionados ou inocentes úteis. 

O que mais dói é que esses discursos, em vez de chamarem a atenção para a necessidade de se dar uma solução definitiva que permita a esses índios, por si próprios, atender suas novas necessidades de consumo e vida, preocupam-se com uma possível e remota mineração em área indígena. E se fazem de vítimas. E apontam o dedo e acusam sem provas. É fácil, ele, David Kopenawa, é índio, é inimputável e é queridinho da mídia, pode tudo. E a senhora vai junto. E acusa também. Afinal de contas, é eleição, vale tudo, não é mesmo?

Aqui começa uma aterra de homens independentes...
Mas, senadora, para falar com mais propriedade de mineração em área indígena melhor dar uma chegada logo ali, na área Waimiri-atroari (mas vá cedo se não a corrente não lhe deixa entrar). Vá e leve um desses barbudinhos da FUNAI. Mas é melhor não levar o pessoal do CIMI: os índios lá não apreciam muito a conversa deles, depois eu conto por que. Lá procure duas lideranças, Mário e David, que no meu tempo deviam ter perto dos vinte e cinco anos mas já negociavam como leões com potências do quilate da Paranapanema. Veja por si só índios altivos, que não dependem de ninguém. Índios que começaram a ficar ricos só com os royalties que lhes paga a mina do Pitinga para usar uma estrada que passa pelas suas terras. E aí começaram a criar gado, construir suas casas de alvenaria, comprar ambulância, não depender de saúde pública pra nada... índios que hoje recebem royalties da Eletronorte (E mais receberão pela passagem do linhão de Tucuruí, neles ninguém passa a perna) e a cada dia ficam mais ricos e mais independentes. E essa independência senadora Ângela, não interessa a David Kopenawa. Nem a Cláudia Andujar. Nem a nenhum antropólogo ou gigolô de índios dos muitos que pululam e vivem à volta deles. Do sucesso dos Waimiri-atroari, ninguém fala. Melhor falar de ameaças de morte e de tentativas de invasão. A Imprensa “livre” adora.

...que há tempos negociam como leões. Aqui, um exemplo.
Raciocine, Senadora, a senhor é esclarecida, conhece a legislação brasileira sobre subsolo. Ninguém está tentando tirar o direito dos índios a minerar em suas terras, como a senhora, inadvertidamente e para atender ao discurso político de seus mentores do PT, acusa. A senhora sabe que o subsolo é da União, e mesmo proprietários de terras só podem nelas minerar se a União autorizar. Agora, o que eu gostaria de saber é como esses índios vão minerar suas terras, uma operação gigantesca e de risco, se não tem recursos nem para comprar comida. A senhora pode me responder isso? Enquanto pensa numa resposta satisfatória, lembre-se de puxar as orelhas do pessoal da FUNAI do PT para dar um jeito na situação dos ianomâmis que volta e meia vagam pelas ruas de Boa Vista, Mucajaí Caracaraí.... É preocupante.

Ah, sim, antes que me esqueça, a mineradora que a senhora acusa de estar de olho nas áreas indígenas só tem um projeto de lavra: exploração de brita. Fora de qualquer área indígena. Prosaico, não?
  
(*)O Projeto Radambrasil, que operou entre 1970 e 1985, foi dedicado à cobertura de diversas regiões do território brasileiro (em especial a Amazônia) por imagens aéreas de radar, captadas por avião. O uso do radar permitiu colher imagens da superfície, sob a densa cobertura de nuvens e florestas. Com base na interpretação dessas imagens, foi realizado um amplo estudo integrado do meio físico e biótico das regiões abrangidas pelo projeto, que inclui textos analíticos e mapas temáticos sobre geologia, geomorfologia,pedologia, vegetação, uso potencial da terra e capacidade de uso dos recursos naturais renováveis, que até hoje é utilizado como referência nas propostas de zoneamento ecológico da Amazônia brasileira. (fonte: Wikipédia)

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