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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A felicidade em setenta e duas suaves prestações.

Qualquer psicólogo de beira de divã lhe dirá: você pode até não curar a depressão de uma pessoa, mas se soltá-la num shopping com capacidade e dinheiro para meter o pé na jaca e desfrutar o poder de comprar aquele monte de coisa que não podia, vai ver que os sintomas diminuem bastante. A que vem isso? E, a propósito, a que vem essa propaganda do Bradesco num blog que se autoproclama não patrocinado? Explicações são necessárias. Calma aí. Essa propaganda vem sendo exibida ao longo da campanha eleitoral, para ser exato, nos últimos trinta dias, por aí. E trata da felicidade que o crédito consignado pode proporcionar. Comprar é poder. Poder comprar é happy. Ter é melhor do que ser. 
Coincidentemente,  hoje, no Bom Dia Brasil, fica-se sabendo que o governo anunciou que aumentou para 72 meses, ou seis anos, o prazo para o pagamento dos empréstimos consignados. Ou seja: mais tempo para pagar = prestações menores, que por sua vez significam o aumento do poder de comprar. E todo mundo comprando = todo mundo happy, como está a população que declara voto em Dilma. Ou conformado. Ou com medo.
Totalmente ou mais ou menos happy, pouco se lixando para escândalos, incompetência gerencial, atraso nas obras, inflação, juros altos, saúde, educação, segurança o escambau,  desde que isso não os impeça de comprar. Porque isso tudo é distante do dia a dia das pessoas, demora para produzir e fazer sentir qualquer melhoria. Além do mais, nem sempre eu preciso de serviço de saúde. 
O futuro é agora. E o presente é happy.
Mas se eu posso consumir uma TV com mais polegadas eu estou happy. Foi nisso que o PT transformou o povo brasileiro. Surfou na onda da estabilidade da moeda proporcionada pelo Plano Real e saiu estimulando o consumo. Lembrem-se que o crédito consignado foi inventado e estimulado no governo Lula, a princípio pelo BMG e, depois, com todos os bancos entrando na farra do empréstimo sem risco. Que beleza, diria Milton Leite. E em doze anos, em vez de criar cidadãos, os governos do PT criaram consumidores, tudo happy. Porque não há nada igual à sensação de poder comprar algo. É ela que nos faz sentir que mudamos de patamar, subimos na vida. Depois da sensação inebriante de comprar, subir na vida, vem o medo de descer, de perder. E foi esse medo que Dilma usou para derrubar os pontos de Marina. Com uma enorme desonestidade intelectual, mas com uma tremenda eficácia, reduziu a mensagem à sua expressão mais simples, traduziu-a para o nível de compreensão do seu eleitor. 
Quem sabe lá o que significa Banco Central Independente? Mas com certeza se sabe que é algo ruim se lhe dizem que isso significa menos comida no seu prato, perda da capacidade de comprar suas coisinhas. 
Nem Aécio nem Marina conseguiram traduzir suas ideias para o nível de compreensão da população, mostrar claramente em que suas vidas melhoram se votarem neles. Em eleição - na presidencial especialmente - a sensação vence a razão. E a sensação dos agarrados feito ostra à candidatura de Dilma é a de que estão happy. E morrendo de medo de perder suas magras conquistas e deixar de sê-lo. Porque não conseguem enxergar o que podem ganhar com Marina ou Aécio, não foram bem informados, não sabem o que é que maria leva. Mas foram convencidos do que que podem perder com eles e sem Dilma. E ninguém quer perder. Por isso Dilma está mantendo os pontos e até crescendo em algumas pesquisas. O que nos salva é seu nível de rejeição, a quantidade de pessoas que nela não votam nem que a vaca tussa. A menos que... o medo se espalhe e vença a razão.


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