Páginas

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O fim da ilusão. Ou: a cartola mostra seu fundo falso.

O dom de iludir.
Há duas coisas que um político bem sucedido não pode descuidar nunca: da autoconfiança e do tempo. Tem que manter a autoconfiança em rédea curta, porque, além da medida, ela faz com que o político comece a acreditar demais em si mesmo e em seus talentos e deixe de enxergar o outro, os adversários, suas idiossincrasias, seus pontos fortes, seus pontos fracos, enfim, todas as possibilidades (e não probabilidades) que o outro tenha de ser atingido e atingi-lo. Geralmente o excesso de autoconfiança faz o político também perder a noção do tempo e a capacidade de administrá-lo. Há um tempo para tudo. E quem consegue percebê-lo sempre se sai melhor no jogo da política, muito parecido com o poker. Há a hora certa para blefar. Há a hora certa para recolher as cartas e trocar as fichas para pelo menos minimizar o prejuízo.
A que vem essa introdução repleta de obviedades? Ao desempenho de Neudo durante esses meses que antecederam a campanha, a que mais viria? Já foi dito aqui, neste blog, tempos atrás, que Neudo é um ilusionista. E armado com esse dom de iludir, vem enganando seus seguidores desde que perdeu a eleição em 2010. A cada grito de “agora vai”, a galera se inflamava. E a cada frustração, em vez de recolherem as velas, mais e mais acreditavam no capitão e mais o endeusavam e mais o seguiam em sua inebriante aventura.
Daqui não sai mais coelho: o fundo é falso.
Neudo sempre soube que não ia ser candidato. Munido de um parecer mágico, capaz de produzir uma liminar salvadora, foi de instância em instância, de agravo em agravo, de apelação em apelação, de embargo em embargo, com seus malabares no ar, embasbacando os incautos. E cada rebordosa, gritava “agora vai!” e a galera respondia em coro “agora vai”. E continuava engrossando o cordão dos abduzidos.
Aí foi que a autoconfiança e o tempo começaram a revelar o fundo falso da cartola do mágico. Estava claro que ele acumulava capital eleitoral para negociar. Mas sua adoração pela própria esperteza não o permitiu ver que sua liderança não era tão grande assim. Parte dela era estável, aqueles que desde 2010 aguardavam a volta do Messias. Mas grande parte era formada pelos descontentes com o governo (qualquer governo de estado no Brasil, hoje, acumula uma taxa alta de rejeição). E sua candidatura transformou-se numa caixa-de-gordura, onde desaguavam os ressentimentos de ocasião. Não viu que eles não são firmes o suficiente para que sobre eles se tenha algum domínio. O tempo foi aproveitado pelo candidato do governo para mostrar a que viera, revelar seu estilo, apresentar resultados, mostrar do que é capaz e estancar e reverter a derrama do que escorria pelo ralo.  
E assim termina a ilusão. O tempo é implacável
Cego pela autoconfiança, Neudo não viu nada. Acreditou que podia segurar a água que tinha nas mãos. E, sem avaliar corretamente o real tamanho de seu capital, foi negociar alto. Mas o tempo havia passado e os outros enxergavam. Os outros estavam de olho, permanentemente observando as tendências. Os números não mentem. Estatísticas bem feitas dificilmente estão erradas. E elas diziam o tamanho de sua capacidade de transferir. O preço não batia com o que se podia realmente entregar. Voltou de mãos abanando.
E o tempo lhe deixou uma única saída: lançar a candidatura de sua mulher para ver se consegue transferir pelo menos os votos dos fiéis e salva alguma coisa para negociar num segundo turno que, à medida que ela se revela tal como é, vai ficando cada dia mais remoto. Só lhe resta empinar mais uma vez os malabares e, sem discurso e sem proposta, agarrar-se à vaga ideia de salvação para manter os crentes. Tarefa para ilusionista nenhum botar defeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Só serão aceitos comentários identificados por nome e email do comentarista.