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Estão aprendendo que rapadura é doce mas não é mole. |
Depois de ver os programas
eleitorais da candidata gato-por-lebre na TV neste segundo turno, fui procurar
no dicionário o significado da palavra desespero. Tá lá: desesperança com
irritação, angústia. Então tá explicado. Neudo nadou em rio sem piranha no
primeiro turno inteiro. Ninguém (inclusive, penitencio-me, eu) acreditava que
ele fosse candidato, como de fato terminou não sendo. Pensava-se que ia
acumular capital eleitoral para negociar com um dos candidatos. Por isso,
durante todo o primeiro turno, aproveitou-se do pouco tempo de que dispunha e fez
um programa de TV angelical, pastoral, sem uma proposta, apenas vagas promessas
de salvação de Roraima. Não bateu em Ângela. Não bateu em Chico. Pra não deixar
de aproveitar a onda, aqui acolá, um cauteloso e quase tímido ataque a “tudo
isso que está aí”, a forma mais antiga de ficar em cima do muro da história
política daqui e d’alhures.
Talvez por conta disso tudo,
nenhum dos candidatos tratou de desconstruir sua candidatura, desmitificar sua
figura, lembrar seu passado negro e sua administração desastrada, por abaixo
suas propostas vagas ou denunciar a falta delas. Chico permaneceu propositivo
até o último programa. Ângela mirou em Chico para ver se recebia o troco,
colhia a rejeição e crescia pela via da polarização. Não colou. O primeiro
turno acabou quase em abraços fraternais. E Neudo surpreendeu com a
transferência de votos para o seu poste.
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Chico falou grosso. E o gato chamou Telmário. |
Agora a coisa muda de
figura. É segundo turno, é outra conversa. Para decidir, as pessoas comparam. E
a comparação está sendo feita. Chico já deu um chega-pra-lá de bom tamanho no
gato que se quer passar por lebre, um “me respeite, cabra!”, que até pelo
inusitado do tom forte em pessoa tão cordata, deve ter agradado muito a um povo
que historicamente admira demonstrações de macheza. E o seu programa já está
revelando o passado negro que todo mundo conhece mas estava escondido pela
propaganda enganosa.
Aí os neudistas se deram
conta de que a comparação dos dois candidatos é desfavorável a Suely por
qualquer ângulo que se queira fazê-la. Viram o tom firme de Chico, suas
propostas infinitamente melhores, seu grupo forte e com influência política
suficiente para viabilizá-las. Viram o povo ser lembrado do passado negro de
Neudo e sua administração, que todo mundo conhece mas estava escondido pela
propaganda festiva do primeiro turno.
E a desesperança instalou-se.
Ficaram irritados, angustiados. E bateu a raiva. Raiva que se manifesta na
repetição de insinuações e acusações de
todo tipo e o tempo todo. Perderam a noção do decoro. Pararam de cantar como
cantavam antes. Chamaram Telmário para baixar de vez o nível. E agora só
acusam, só mistificam, só atacam, só atiram a esmo. O programa deles ficou
amargo. Desespero, o mais puro desespero.
Mas não adianta. O povo
repudia o desespero. Prefere a substância, a firmeza de propósitos, a segurança.
E já escolheu Chico. Espere só pra ver.