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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

E se a gente ganhar?

Ali pelos anos setenta tornou-se corriqueira uma piada que retratava a dificuldade dos países latino-americanos engatarem um processo de desenvolvimento que os livrasse da monocultura para exportação. Dizia-se que, numa certa República Bananeira, reuniram-se os mais sábios para encontrar uma solução e que, procura daqui, cascavilha dali, queima-se a mufa e, finalmente, o gênio da raça local saiu com a grande ideia:

- A solução é a gente declarar guerra aos Estados Unidos e à Inglaterra. Aí eles nos invadem, arrasam uma coisinha aqui, outra ali, ganham a guerra e, depois, entram com um plano de recuperação cheio de grana e a gente começa a se desenvolver sem limites. Não vê o que aconteceu com a Alemanha e o Japão depois da guerra? Os Estados Unidos e a Inglaterra invadiram, arrasaram e depois despejaram rios de dinheiro lá. Tanto que, em pouco tempo, todos os dois viraram potencias econômicas mundiais e vão muito bem, obrigado. A plateia prorrompeu em aplausos, em êxtase com a ideia genial, já definindo providências para a declaração de guerra. Até que um tímido assistente do assessor, quietinho lá num canto, pediu timidamente e palavra e fez a pergunta definitiva:
- Tudo bem. Mas... E se a gente ganhar?
A falta que faz um idiota da objetividade...
Algo parecido aconteceu num promissor estado do norte do País. Atolado numa eterna dependência do setor público, que já demonstra incapacidade de gerar empregos e oportunidades econômicas no comércio e nos serviços, tem como único caminho implantar urgentemente um processo produtivo em larga escala, capaz de gerar efeitos para frente e para trás na economia, criar oportunidades em cascata e, consequentemente, empregos capazes de absorver o crescimento de sua população economicamente ativa.
Diante desse dilema, um grupo de gênios políticos reuniu-se para encontrar a solução. E o mais genial entre eles saiu com a mãe de todas as ideias.

- Nós temos um senador que é reconhecidamente um dos mais influentes políticos do cenário nacional, uma máquina para trabalhar, sujeito determinado, focado nos objetivos e que tem verdadeira obsessão por realizar, transformar. E, além disso, capta recursos como ninguém mais. Então, vamos declarar-lhe guerra aberta, sem quartel. Aí o candidato que ele apoia ganha por pouco, ele fica mordido e, só para mostrar força, dana a trabalhar em dobro, sai captando recursos, gerando ideias, atraindo investimentos, resolvendo a negocião para fazer a estrada de Letten/Georgetown... enfim, botando nosso estado no cenário nacional. E, como o candidato dele ganhou por pouco, nós vamos sair muito fortalecidos e vão ter que negociar tudo com a gente. E é aí que a gente se acomoda e, o que é melhor, sem aquela trabalheira toda. Não é uma ideia genia?
Todos concordaram com tao genial ideia. Só que, nesse dia, o idiota da objetividade faltou à reunião e não pode fazer a pergunta-chave: E se a gente ganhar?
Pois é. Ganharam. O problema é que ganharam. E até hoje não apresentaram uma ideia que seja sobre como sair do atoleiro ou sobre nada. Mas já deflagraram a corrida ao cargo, mostrando que o  caminho vai continuar a ser o do serviço público para a fartura de poucos. Fico aqui pensando na falta que faz um idiota da objetividade numa hora daquelas...

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